CERÂMICA ARTESANAL MANTÉM VIVA HERANÇA DE NAÇÕES INDÍGENAS EXTINTAS
A cultura das cerâmicas marajoara e tapajônicas é reproduzida e preservada por mestres artesãos de Icoaraci, distrito de Belém do Pará
A história de Seu Anísio é peculiar. Baiano, 69 anos, ele
conheceu as cerâmicas marajoara e tapajônica, de origem indígena, por um
daqueles acasos do destino. Ao perder o emprego em Salvador, BA, resolveu – por
indicação de um amigo – comprar cerâmica em Icoaraci, distrito a 20 km do
centro de Belém, PA. As primeiras 80 caixas foram vendidas tão rapidamente que
Seu Anísio viu potencial no negócio. Passou a viajar todos os meses a Belém e,
mesmo assim, não dava conta da demanda. Decidiu, então, comprar a fábrica de um
de seus fornecedores, 36 anos atrás – o pontapé para a mudança de vida:
"Comecei a comprar a cerâmica semipronta e pintar. Em seguida, iniciei um
trabalho conhecido como agregamento. Os marajoaras usavam muito figuras humanas
e de animais sobre a peça de cerâmica", diz Anísio. Hoje considerado
mestre, ele é um dos nomes que mantém viva a herança das nações indígenas
extintas da Ilha do Marajó e das margens do rio Tapajós, onde está localizado o
município de Santarém
Com papel fundamental para fomentar o artesanato da região
está o Sebrae Pará, que desde 1998 realiza ações para valorizar a identidade
cultural dessas comunidades e promover a melhoria da qualidade de vida,
ampliando a geração de renda. A organização foi coeditora do livro Arte da
terra – resgate da cultura material e iconográfica do Pará, editado pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi, que detém um grande acervo com desenhos de detalhes das
peças, que são reproduzidos pelos artesãos de Icoaraci para a produção de obras
atuais. "Seu Anísio é um grande conhecedor das culturas marajoara,
tapajônica e maracá", diz Renata Trícia, gerente da unidade de Comércio e
Serviços do Sebrae Pará. Além das imitações de desenhos, o mestre desenvolve
traços mais autorais. Um bom exemplo é a linha que retrata a corda do Círio de
Nazaré, maior evento religioso do Brasil.
Mestre Anísio e bengaleiro que traz desenho inspirado na corda do Círio de Nazaré, 70 cm de altura, R$ 490 (Foto Lufe Gomes / Editora Globo)
Prato com pintura feita pelo artesão Admilson, 20 cm, R$ 45 (Foto Lufe Gomes / Editora Globo)
Detalhe. Conforme molda a cerâmica, o artesão cria relevos sobre a peça (Foto Lufe Gomes / Editora Globo)
Fonte: http://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Decoracao/Detalhes-decorativos/Artesanato/noticia/2017/04/ceramica-artesanal-mantem-viva-heranca-de-nacoes-indigenas-extintas.html
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