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TERESA RAQUEL BASTOS - A DESIGNER GRÁFICA VIRA ARTISTA PLÁSTICA PARA VENCER O CÂNCER DE MAMA

Curada, Vilma agora doa parte do dinheiro da venda de suas obras para outras mulheres com a doença






O diagnóstico de um câncer mexe muito com a vida do paciente. Algumas pessoas se isolam, outras extravazam a dor. Para a designer gráfica Vilma Karo, a única forma de lidar com a notícia era  a arte. Ela já fazia quadros antes da doença como hobbie, relaxando depois do expediente em uma agência de publicidade. Era apenas um divertimento e não comercializava as peças, apenas dava de presente aos amigos. Mas com o câncer de mama, que apareceu em 2012, precisou juntar dinheiro para pagar o tratamento, já que o plano de saúde talvez não cobrisse a cirurgia.

"Usar a arte como desabafo era importante para mim. Quinze dias antes de descobrir a doença, um amigo de infância morreu de câncer. Na minha família, todas as mulheres morreram de câncer de mama. Então o câncer sempre esteve na minha vida", conta a artista.
Foram cinco meses esperando pela liberação para a cirurgia, encarando a mazela de frente, e ocupando a mente com os recortes. "A gente sabe que câncer não espera. Quanto mais demora a tomar atitude, mais ele avança. E eu não tinha escolha, a não ser esperar pelo plano de saúde, ou pelo dinheiro das obras. Então como foram cinco meses nessa situação, eu já tava achando que ia morrer".
Nos quadros, a dor é expressa simulando uma contagem dos dias de espera pela cura que parecem não passar, às vezes é um emaranhado de fios de papel, igual ao sentimento de choque que Vilma sentiu ao ouvir que tinha câncer. Os cortes precisos que faz evocam as cicatrizes de bisturis, e a sensação de carne dilacerada pelo desespero da sobrevivência.
Com a dedicação da artista plástica, o tratamento médico e a leveza da arte, Vilma se curou. A cirurgia foi paga pelo plano de saúde e então ela viu que o dinheiro das obras poderia ajudar mais pessoas. Criou o projeto Peito Aberto e passou a doar o lucro da venda a pacientes internadas em hospitais públicos de São Paulo. De 2014 para cá, ajudou três mulheres carentes com dinheiro, e muitas outras mais quando fechou parceria com a Vult, marca de cosméticos, para distribuir mais de seis mil kits de beleza. "É muito gratificante ver o sorriso no rosto de uma pessoa que está ali sofrendo, mas que teve o dia feliz com um gesto tão simples", conta.
Agora seu trabalho entrou em uma nova fase, nomeada por Vilma como Fragmentos. Os pedaços de papel se unem como pedaços juntados para seguir a vida. "Quando se passa por tudo isso, junta-se os pedaços e vê o que fica e o que vai embora", explica. Com a crise econômica que fez minguar os trabalhos de publicidade, a artista hoje encara o câncer como uma situação que trouxe a chance de torná-la artista plástica por profissão. "Hoje entendo que a doença me mostrou o que importa na vida, de ter apenas o que preciso, de ser leve. Estou muito feliz na nova fase", finaliza.
Fase Fragmentos da artista (Foto: Divulgação/Vilma Kano)



Obra simula a contagem dos dias (Foto: Divulgação/Vilma Kano)


                A expressão do emaranhado de emoções ao descobrir o diagnóstico (Foto: Divulgação/Vilma Kano)


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